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Baile Pérola Negra celebra protagonismo da mulher negra com coroação de sete rainhas em Campinas

A noite do último sábado, 5 de julho, foi marcada por emoção, beleza e representatividade em Campinas. O tradicional Baile Pérola Negra reuniu dezenas de pessoas para celebrar a diversidade e coroar as vencedoras da 3ª edição do Concurso Rainha Pérola Negra, que aconteceu no Clube do Bonfim. A premição contou com a presença do prefeito Dário Saadi que entregou as premiações.
O evento homenageou sete mulheres negras que se destacam em diversas áreas, como educação, cultura, luta por direitos e afirmação de identidade.
As coroações ocorreram nas categorias: Educação pela Promoção da Igualdade Racial, Profissional Destaque, Trajetória de Luta e Garantia de Direitos, Desenvolvimento Comunitário, Cultura, Revelação e Afirmação de Identidade. O baile, com entrada gratuita, reviveu os tradicionais bailes negros de Campinas e foi animado por Big Chico e Banda Show, além do DJ Luciano Rocha, da Chic Show, equipe símbolo da black music nos anos 1990.
Concurso valoriza resistência
Instituído pela Lei nº 8.175/1994 e regulamentado pelo Decreto nº 20.268/2019, o Concurso Rainha Pérola Negra tem como objetivo valorizar e dar visibilidade às mulheres negras de Campinas, reconhecendo trajetórias inspiradoras e atuações transformadoras na sociedade.
A seleção das indicadas foi feita pelo Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra de Campinas (CDPCN), com apoio da Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial (Cepir), órgão ligado à Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social da Prefeitura.
“É uma celebração da resistência, da contribuição e da potência das mulheres negras campineiras em nossa sociedade”, afirmou Marcelo Rezende, coordenador departamental de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Para a presidente do CDPCN, Marcela Reis, o evento é mais que uma celebração cultural: “O Baile Pérola Negra é um ato político que eleva a mulher negra ao protagonismo que lhe é de direito. O baile é a afirmação de que nós, mulheres negras, podemos e devemos ocupar os espaços que historicamente nos foram negados. Cada gesto neste baile é um ato político: a nossa presença, a nossa voz, a nossa liderança e coroar essas sete rainhas é reconhecer lideranças que transformam a cidade todos os dias.”
Durante o baile, foi prestada uma homenagem póstuma à líder comunitária Marqueza dos Santos Almeida, moradora do Parque Itajaí e figura fundamental na luta por educação e cultura nas periferias de Campinas. Ela atuou na revitalização da associação que se tornou o Sindicato das Trabalhadoras Domésticas e inspirou a criação de casas de cultura, base para o programa Cultura Viva.
A programação contou ainda com a abertura da exposição “Bailes Negros: sociabilidades e resistência em Campinas”, desenvolvida pelo Centro de Memória da Unicamp, a partir da coleção fotográfica da pesquisadora Maria da Glória Bardi. A mostra retrata a presença negra em bailes, festas e eventos culturais entre 1930 e 1970.
Conheça as homenageadas
- Afirmação de Identidade: Maíra Drigues da Silva, quilombola, doutoranda em Geociências pela Unicamp e membro do Jongo Dito Ribeiro. Atua pela justiça ambiental e fortalecimento de comunidades tradicionais.
- Cultura: Ilcéi Mirian, cavaquinista, cantora e pesquisadora de samba. Organiza a Feira Cultural Afro Mix, que chega à sua 30ª edição em 2025.
- Desenvolvimento Comunitário: Michele Eugênio, presidente da CUFA Campinas. Liderou ações sociais durante a pandemia e organiza o Hip Hop Festival, o Sacode Interior e a Taça das Favelas Campinas.
- Educação pela Promoção da Igualdade Racial: Aparecida Célia dos Santos, mestranda e professora com mais de 35 anos de atuação voltada à valorização das culturas afro-brasileiras.
- Profissional Destaque: Waleska Miguel Batista, doutora em Direito e coordenadora do CEAAB-PUC Campinas. Atua no Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU.
- Revelação: Hidaiana Rosa, jornalista, ex-apresentadora da EPTV e atual coordenadora de comunicação da Secretaria Municipal de Cultura.
- Trajetória de Luta e Garantia de Direitos: Mercedes dos Santos, doméstica e militante do Sindicato das Domésticas, além de membro do Conselho do Clube Social Machadinho.
A origem do concurso
Criado em 1957 por iniciativa de Laudelina de Campos Melo, pioneira na organização das trabalhadoras domésticas e referência no movimento negro de Campinas, o Concurso Rainha Pérola Negra resgata sua luta por visibilidade, respeito e igualdade para as mulheres negras. Laudelina promoveu ações culturais, fundou sindicatos e deixou um legado que continua vivo nas novas gerações.
