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Samu Campinas completa 29 anos e segue como referência nacional no atendimento de urgências

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Campinas completou 29 anos em 2025. Em quase três décadas de existência, o serviço, que foi inspirado no conceituado modelo francês de atendimento a emergências (Samu Urgences de France), é sinônimo de pioneirismo e referência nacional no serviço prestado à população.
O Samu campineiro foi um dos primeiros do Brasil. Também foi o precursor da humanização do serviço psiquiátrico no município, com médico psiquiatra que faz parte da equipe de urgência e atende alguns dos casos mais complexos que chegam ao Samu: as tentativas de suicídio, por exemplo. O serviço é vanguardista no oferecimento da medicação Tenecteplase, um trombolítico usado em casos de infarto do coração, e no uso de tablets que dinamizam os atendimentos. Além disso, tem uma equipe formada por cerca de 250 profissionais.
Ao longo de sua trajetória, o Samu Campinas evoluiu para um modelo moderno, eficiente e integrado. Investimentos em frota qualificada, tecnologia de regulação, protocolos clínicos, equipamentos médicos avançados e expansão territorial permitiram melhor cobertura, redução do tempo de resposta e ganhos expressivos na qualidade e segurança do atendimento pré-hospitalar.
O início
José Roberto Sampataro Hansen, médico emergencista, cirurgião plástico e servidor da Prefeitura Municipal de Campinas entre 1995 e novembro de 2017, data da sua morte, foi idealizador e um dos fundadores do Samu. Ele foi até a França conhecer o renomado modelo de atendimento de urgência daquele país e o adaptou às demandas e necessidades daqui com o desafio de manter a mesma qualidade no atendimento.
No início, não existia uma classificação de gravidade do paciente. Quando o Samu foi criado, o foco foi colocar cada caso dentro de uma complexidade para que o direcionamento do atendimento fosse assertivo: casos mais graves e com necessidade de assistência médica de um especialista eram direcionados para o hospital referenciado com a especialidade. Casos menos graves iam para unidades com as condições ideais de atendimento de casos menos complexos.
Renato Ferrari Letrinta, atual supervisor do Samu Campinas, lembra como era o atendimento antes da criação do Samu. “Aqui em Campinas a gente só tinha serviço de ambulância, que era basicamente a remoção dos pacientes, às vezes era só um motorista. Ou ele e um técnico de enfermagem, sem protocolo nenhum. Quando foi criado o serviço, a grande diferenciação foi a sistematização do atendimento. A partir daí houve a padronização dos atendimentos de trauma e clínicos. O Samu atende toda a população, desde idosos, crianças, gestantes, e funciona sete dias por semana, 24 horas por dia”, disse.
Vidas preservadas
O resultado da implantação do Samu foi que os primeiros socorros prestados impactaram na chegada dos pacientes até as unidades de saúde em melhores condições de cirurgia e clínicas.
Segundo Rodrigo Calado, médico que atuou no Serviço de Urgência e na Sala de Emergência do Hospital Mário Gatti por dez anos, o atendimento do Samu é essencial, especialmente, para estabilização do paciente e, em alguns casos, para a melhora do quadro, o que garante que ele seja transportado com vida até o hospital e lá possa receber cuidados mais aprofundados.
O Samu atua tanto em situações clínicas, como também em situações traumáticas. Por exemplo, em um infarto agudo do miocárdio, o paciente já pode ser trombolisado na ambulância e melhorar a circulação sanguínea no coração, salvando muitas vezes boa parte da musculatura do órgão. Em um edema agudo de pulmão, quando está encharcado por líquidos, a intervenção do Samu faz medicações que aliviam esse quadro e tiram o paciente de uma situação de emergência, em que ele seria intubado, sem que haja a necessidade dessa intervenção mais invasiva.
Os casos traumáticos também fazem parte da rotina do atendimento do Samu. São os acidentes que podem demandar ações como a diminuição de sangramento, medicação para dor, imobilização ou restrição de movimentação do paciente. Um exemplo é o usuário que possui fraturas, riscos de fratura em coluna, em que o deslocamento pode causar um quadro futuro de paraplegia ou tetraplegia, com danos à medula do paciente, sendo a imobilização, portanto, fundamental.
“São muitas as intervenções que as viaturas básicas do Samu podem fazer, assim como as avançadas, que vão com médico, enfermeiro e condutor, com uma estrutura de UTI prestando atendimento para o paciente com tudo o que ele precisar naquele momento para a manutenção da vida”, explicou Rodrigo Calado.
Pioneirismo que é referência
Ao longo de quase 30 anos, o Samu Campinas sempre esteve à frente da inovação na prestação de um serviço de excelência para a população, o que o mantém até hoje como referência entre os Samus de todo o Brasil.
O médico psiquiatra que faz parte da equipe do Samu é um desses diferenciais, já que poucos serviços no Brasil têm essa especialidade no plantão. No Samu campineiro, o especialista faz parte do plantão 24 horas por dia. Ele fica na central de regulação e atende a todos os casos de psiquiatria. Quando há necessidade, o profissional vai até o local da ocorrência .
“Os casos psiquiátricos são bem complexos. Estão entre as ocorrências mais demoradas do Samu. Por exemplo, alguém que tenta o suicídio. Com o tempo, a gente viu que não era só pegar aquela pessoa e levar para o hospital. Isso tinha potencial para causar uma reincidência. Fomos aprimorando a abordagem ao suicida, porque exige técnica, dedicação, empatia, escuta ativa e diálogo. É preciso criar um vínculo com o paciente para ele aceitar espontaneamente o tratamento e para não tentar novamente”, explicou Letrinta.
Paralelamente ao trabalho no Samu, o psiquiatra também atua nas UPAs, realizando todas as avaliações psiquiátricas das unidades.
Medicação que salva
O serviço também foi o primeiro no Brasil a ter o Tenecteplase. O medicamento é eficaz e seguro para o tratamento de Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico e infarto agudo do miocárdio. Ele atua como um trombolítico, ajudando a dissolver coágulos sanguíneos que podem causar esses eventos. A medicação, que salva vidas, está no Serviço Móvel de Urgência de Campinas desde 2012 e é mais um diferencial para o atendimento de urgência e emergência da população.
“Tem um jargão na cardiologia que fala que tempo é músculo. O que significa que a cada minuto que passa para um paciente infartado, as células cardíacas vão morrendo. Então, quanto antes abordar esse infarto, melhores as condições em que entregaremos esse usuário às equipes do hospital e menores as chances de comorbidades para o paciente”, disse Letrinta.
A medicação fica armazenada em um reservatório com isolante térmico, que é outro diferencial que existe em viaturas avançadas.
Os casos de infarto são ocorrências frequentes e no período das temperaturas mais baixas, esse tipo de atendimento aumenta consideravelmente. Nem todos os Samus possuem esse tipo de medicação.
